E como é doce o sabor de um delírio. Por mais abrasivo que seja, tal satisfação em estar simplesmente fingindo não se importar com a realidade, não tira em nada, a credibilidade de uma das maiores provas de nossa jornada vital. Desencantado com tantos padrões, me pus em sintonia com algo que já não mais se capta. A criatividade. Desta fiz minha fuga, meu pequeno mundo das maravilhas em meio até mesmo o terror. Dela me aproveito ao máximo, expurgando desde angústias até mesmo os sentimentos mais terrenos de um ser. Sou reflexo do que eu penso e imagino, pois não há provas da realidade, mas ela torna-se necessária pra que não enxerguemos apenas o escuro vazio da ausência de luz em nossa íris. A realidade se forma diante de nós, nos dando a expectativa de estar realmente existindo. Eu que desenvolvo o que sinto do mundo, pois não é o mundo que me sente, eu sou quem, por meus sentidos, desenvolvo as sensações ao interagir com o mundo. Quando seguem-se padrões, nos incrustam em nosso cérebro o pensamento de um terceiro, nos iludindo ao dar a impressão de que realmente temos aquela personalidade. Ou seja, será que somos quem realmente somos? E em meio a tanta dúvida, me recolho ao infinito mundo das possibilidades imaginárias, onde mudar pequenos detalhes da vida para imaginar o presente/futuro desejado, é realmente possível. Desenvolvo a mim só, uma realidade paralela além dos meus sentidos, onde não sou o “eu” desta realidade e sim um outro “eu”em uma realidade totalmente diferente. É como se fossem duas almas habitando o mesmo corpo, dando a mim o poder de ter duas realidades Posso até ser dois de mim, mas jamais conseguirei existir, em qualquer que seja a realidade, em um “eu” de outra pessoa. Vivemos a vida somente em primeira pessoa. Independente da realidade que habitamos. Ao andar por aqui, notamos em vários artistas, a retratação de seus universos paralelos por meio de suas obras, sendo possível confundir mais ainda as realidades, não só diferentes a eles, mas também com as de quem aprecia. A arte é uma forma de duas realidades distintas se coexistirem com as demais. O quão não seria perturbada a realidade paralela de Salvador Dali? Ou a retratação do universo de Quentin Tarantino.? Ou a dor e o obscuro de Alvares de Azevedo? Seja qual for forma a forma de um criador de vir à tona, seja pela fala, pela escrita, pelas telas, ele descreverá a sua confusão mental das suas realidades. Quanto maior a criatividade, mais próximos chegamos do nosso verdadeiro eu, e maior também serão as possibilidades a cerca de duas realidades distintas. Uma fusão entre nossos dois mundo, gera o paralelo necessário para encontrarmos nossa essência e mergulhar no autoconhecimento. O eu carnal e eu do nada. A criação divina na mãos da criatura mais mundana. Por isso me faço criador, e deixo que meus sentidos e delírios se confundam, se fundam, me permitindo rasgar as palavras embaralhadas que leem nesse momento. Em meio ao puro êxtase da criação, volto a afirmar: A criatividade é só um delírio. Delirem!
Yuri Cidade
Comments