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Foto do escritorYuri Cidade

Anamauê

Entrando em contato com nossas raízes, vejo o quão profunda são. Mesmo que ano após ano tentem cortá-las, procuro plantá-las novamente no meu ser e resgatar o macunaíma que habita em cada um de nós. No meu país há muito cacique pra pouco índio. Assisti a isso na miraculosa ilusória votação de afastamento da chefe da aldeia. Como tribos rivais em um filme hollywoodiano, grandes guerreiros, a mando de seu chefe, degladiaram-se por meio vocal e físico, buscando jamais o bem da tribo inteira, e sim, somente dos tantos outros caciques possuidores do poder de voto obtido através do bom e velho escambo da parte mais controlável da população. Pra quem não tem nada, muito menos educação, qualquer migalha é moeda e qualquer promessa é verdade. Como jesuítas, aplaudiram, juraram e dedicaram à Deus o seu voto para assinar sentença de morte da democracia. Igreja e política novamente juntos expurgando os pecados dos inocentes, coroando os pecadores e condenado os vivos a pagar não só dízimo, mas também seus pecados no inferno em vida que criam em nosso cotidiano. Fica evidente que a desculpa pra se cometer um crime aqui é colocar tudo na conta de Deus. Um argumento usado constantemente pelo Estado Islâmico. Mera coincidência ou mera hipocrisia? Pior de tudo é que uma mentira muitas vezes contada, acaba virando verdade para quem cansou de duvidar. Julgam-se tão bons pais, maridos e cidadãos, porém não tiveram a decência de ficarem no mínimos vermelhos ao pronunciarem mentiras ao vivo em horário nobre. A capitânia da família Marinho continua coordenando tudo como a tele-tela de George Orwell. Até mesmo o discurso do “grande irmão” ocorreu quando nosso satânico presidente da câmara abriu as portas do limbo para a votação. Um tribunal presidido por réus sentenciando inocentes. Moro no país tropical, abençoado por Deus e corrupto por influência. Pois por natureza é que não somos corruptos. Afinal nossos antepassados eram um povo unido, livre de preconceitos, indivdualismo e julgamentos. Tanto que acolheram os brancos, que como nossos políticos, exploraram nossas riquezas nos deixando aminguos de educação e oportunidade. Afinal o que um selvagem pode fazer em uma sociedade tão evoluída? Um circo dos horrores regado a deboche. Exatamente o que vi: risadas e piadas feitas pelos seres mais ignorantes desse país. Até mesmo um palhaço e um sertanejo aposentado, que mamam nas tetas da nossa mãe-pátria, compactuaram com o golpe, mostrando realmente o quanto vale nosso voto. Nada! Digo que aqui é pior que 1500 quando o Brasil virou colônia de exploração, pois agora nos exploraram e nos censuram como em 64. No espetáculo arquitetado pelo parlamento, foi possível ver que os mitos são realidade, pois realmente apoiam à tortura, o preconceito, o machismo e o sistema ditatorial. Nossa única reação foi um cuspe com gosto de sangue e resistência dos mortos pelo DOI-CODI. No dia do índio aprendi que somos mais selvagens do que nossos antepassados. Que não adianta vestir-se de verde e amarelo e morar em blocos de concreto para sermos evoluídos. Pois um índio, apesar de morar nu no mato, tem muito mais facilidade em distinguir justiça e felicidade do que um cara pálida vestido de terno empunhando uma constituição que jamais foi aberta.  Apáticos e mal instruídos elegemos caciques que não compactuam para com o bem da tribo. E parece não haver pajé ou curandeiro aqui que nos salve da extinção pelo vírus da corrupção. Somos uma tribo canibal de si mesmos, pois devoramos uns aos outros pela simples discordância de ideologia. Nossas mulheres são escravas, nossos homens são irracionais, nossos pequenos curumins não tem direito à crescer com liberdade e educação, e nossos velhos morrem na fila de atendimento do SUS sem qualquer respeito ou consideração à seu conhecimento, sabedoria e contribuição. Na tribo Brasil não há corporativismo ou união. Cada um por si e Deus por alguns como rege a lei de cão. Pela nossa tribo, nossa liberdade, nossos direitos eu continuarei dizendo não à todo e qualquer golpe que visa exterminar nossa alma Guarani.

Yuri Cidade

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