Entre versos e rabiscos, eu trisco a sorte, driblo a morte e procuro um norte. Sem bússola ou astrolábio, somente meu vocabulário afiado feito um punhal. Nem bem, nem mal, certo ou errado, redondo ou quadrado. Apenas o abstrato formando meu retrato nas paredes riscadas do meu quarto. Adormeço, e sonho com todos os endereços dos quais não possuem casas. Vazias. Não de gente. Mas sim de alma. Humanidade falha, geração canalha, formada por gralhas grasnando o senso comum. Não morre gente, apenas lá se vai mais um, apenas entrando para os estatísticos números naturais dos anais da hipocrisia. Como quem caminha sobre brasa fervente, ativo a mente e percorro a imensidão do meu inconsciente. Sempre empossado de si, benéfico somente a mim, procuro um novo rim para afogar minhas desculpas esfarrapadas. Uma garrafa, uma rolha, uma barraca ou uma bolha, onde poderei isolar-me do mundo, e cair no abismo mais profundo que habita meu ser. Minh’alma há de transpor qualquer conceito que se opõe. Entre Reis e peões, ergo bandeira branca e quebro a banca do cassino viciado escondido no planalto. Crucificação social imposta, onde o crime é a única proposta pra quem não tem cacife pra cobrir a aposta de quem fornece a bosta que alimenta o ego da sociedade individual. Preconceito moral, racial e sexual, servidos num prato fundo em cada refeição matinal. Quer açúcar? Poe mais sal! E engole tudo inteiro, pois reza a lenda: se a farinha é pouca, meu pirão primeiro. Só soma quem fornece, se não multiplica, sobra a prece. Apresse-se e corra o mais rápido que consegue. Pernas pra que te quero, joelhos pra quem espero, subindo a escadaria a rezar sem ouvir resposta. Sobrevivo mais vivo do que antes, pois há cada instante descubro uma nova face de mim mesmo. Meus poemas me deram a dádiva da incerteza, fazendo da minha caneta mecanismo suficiente para emanar uma bagunçada clareza. E o meu futuro? Puro Darwinismo social a que me apego. Jamais cego. Não nego nenhum dos meus erros, sendo coeso quanto as hipocrisias que pratico. Acredito, mas jamais suplico. Voz íntima e discreta, me guia e me deixa alerta, como um sexto sentido de poeta, decifro o caos, a luz, o som, a fúria e a raiva, em palavras desconexas. Agora o que me resta é recolher-me ao meu imenso abrigo, mas de antemão lhes digo: Em cada escrita uma nova vida habita, então, há de se deixar viver aquilo que grita!
Yuri Cidade
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