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Foto do escritorYuri Cidade

Gêmeas Almas

Sentado à beira de um balcão eu vejo homens problemáticos à procura da próxima anestesia. Seria cômico se não fosse trágico, pois me enxergo em todos eles. A fumaça que exala da minha bituca me dá a leve impressão de que estamos sendo defumados em alguma câmara de tortura do inferno. Talvez eu preferisse um soco na cara.

O fato é que é foda. Ah como eu precisava de uma de foda. Naquele banheiro meio sujo mesmo, com alguém tão fodido quanto eu. Eles mentiram dizendo que a vida é um orgasmo. Tudo isso não passa de lapsos de tempo para conseguirmos um orgasmo.

Lá pelas tantas, eu já não entendia muito bem a realidade, aparece um par de gêmeas. Loiras e com bochechas angelicais. Mas nada desse ar infantil, e sim duas mulheres feitas.

Não sei bola. Afinal, se uma já seria difícil interessar-se por mim, que dirá duas. Ambas sentaram perto do balcão e pediram um coquetel de frutas. Era engraçado como o sincronismo daquelas duas camas era perfeito. Acenderam uma o cigarro da outra, deram o gole e as tragadas no mesmo segundo. Eu estava admirado, e foi quando elas notaram meu olhar ébrio e admirado.

-Desculpa moças. Eu estava apenas admirando tal sincronismo entre vocês. Nada demais.

Elas riram e disseram juntas:

-Não tem pelo que se desculpar. É bom que tenha puxado assunto…

-Fico feliz que não tenha as importunado.

-Fale mais de você.

-O que eu falaria? Não vejo como impressiona-las. Falarei do que?

-Bobo. Fala do que você faz, do que gosta…

-Eu gosto de… não sei… apenas faço o que já estou acostumado. Escrevo pra caramba quando quero desacostumar e tento vender literatura pra um mundo analfabeto…

-E não há um amor?

-Vários. Inúmeros. Todo dia tem amor. E um ex amor também. Apaixonar-se nos da a impressão de que isso tudo faz algum sentido. Disfarça bem nos primeiros dias, mas com o passar das horas conheces a mente destruída e problemática, fazendo com que todos ao redor corram para um lugar seguro. Como eu queria correr de mim…

-E você não corre? Você só corre.

-Do que estão falando?

-Venha cá.

A moça da esquerda levantou, pegou-me pela mão e me levou até o banheiro. Transamos como se não houvesse um amanhã. Sentia todas as terminações exalando uma euforia distinta de qualquer foda que eu tenha dado na vida. Muito diferentes dos estupros que as relações me causaram. Era algo visceral.

A moça vesti-se, arrumou os cabelos e me beijou, dizendo:

-Agora você parou de correr.

Ao abrir os olhos eu estava sentado no lugar do começo, com um cigarro nos dedos e os lábios de uma linda moça loira.

-Onde está a sua irmã?

Ela riu novamente.

-Tão bêbado e desligado… – com um ar fraterno – eles já foram. Estamos só nos dois aqui.

-Mas com quem ela foi? Não me lembro de tê-lo vista ao sair do banheiro… Você…

-Bobinho. – me beijou novamente.

Ainda confuso, olhei para saída e a vi. Estava de mãos dadas com minha imagem. Um reflexo perfeito de mim, com apenas a diferença de levar um sorriso no rosto. Senti inveja e entendi. Eles atravessaram a rua e sumiram, talvez procurando outro lugar para foder. Enquanto eu fiquei sentado com a aquela bela dama, tendo mais inúmeros orgasmos mentais.

A noite é foda, mas nem sempre é mal dada.

Yuri Cidade

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