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Foto do escritorYuri Cidade

Que olhos são esses?

Me observam, me devoram. Desatam a me afogar nas lágrimas de um rosto sem silhueta. Treme a caneta. Distúrbios, murmúrios vindos da parede. Tenho sede. Boca seca, coração amargo e mente acelerada demais pra raciocinar. A vida se faz de lar pra morte que tende a possuir após cada minuto. Nem de perto estou seguro. Procuro, acendo a luz mas só vejo sombras. Tomba meus sentidos, dividindo minha realidade em dois lados da mesma moeda. Viciada queda. Cara ou coroa. Pensamento voa. Roleta russa com a caneta sem tinta apontada pra minha cabeça. Apareça! Mostre sua faceta, covarde. Nada se materializa. Silêncio Arde. Queima minha garganta. Afeição da ignorância. Já é tarde, mas me apego de que é cedo demais para partir. Joguei com todas as mente para no fim só me confundir. Quero sair daqui! Mas minhas pernas não se mexem. Permaneço inerte. Esquecem dos comandos do meu cérebro. Me consome naquele fantasmagórico olhar célebre. Vida que segue. Porque pões minha existência em xeque? Passado que reaparece. Fecho meus olhos em sinal de prece, mas no mesmo instante minha sanidade padece criando ilusões abstratas de um tempo retroativo e confuso, me forçando a reviver em vários turnos. Difuso. Minha vez, sua vez, o que seria de vocês sem o eu? Quem carrega o mundo como penitência é Prometeu. Não eu. É tudo meu. Porém os olhos querem ser o “nosso”. Bebo o que posso. Próxima rodada do jogador a minha esquerda. De vereda me impacta e caio na cilada. Sorte ou revés? Não jogarei na próxima rodada. O nada me apetece, mas o desconhecido me enlouquece bloqueando minhas palavras anestésicas de uma poesia bélica sobre a próxima bomba mental que estou prestes a detonar. No ato, o gato virou rato a procurar sua toca. Sem rumo, sem rota, desorientado ando em círculos no meu quarto, cercado por aqueles olhos que continuam a me encarar. Relógio parado, cigarros apagados, quarto bagunçado, mas nada bloqueia a visão intrigante daquilo que me vigia. Agonia, trivial alegria que se oculta em um sorriso de desespero. Continuo preso. Logo eu, tão somente egocêntrico, me deixo levar pelo intenso medo de estar errado. Fui quebrado e espalhado em cacos. Desconstruí o mundo e este me retribuiu com um vazio cheio de confusas teorias que levam nada a lugar nenhum. Serei eu quem cria? Ou serei eu personagem de um conto? Contraponto naqueles olhos cínicos. Tenho a impressão de estar entrando em um quadro clínico de esquizofrenia. Por que me vigias? Analisa meu ser e abomina meu saber como se tudo fosse uma simples contradição que crio para adormecer meu dom de ser vazio. Suo frio. Meu hálito tem gosto de ressaca. Enxaqueca que não passa, só dispara. Coração acelera e a pressa me esgueira pelos cantos de minha alma. Perco a calma e com isso a racionalidade. Minha filosofia da humanidade escorre pelo ralo da pia. Dia após dia, já em vigília, observas as trevas da minha queda egocêntrica. A penitência me dependura numa cruz consolidada. As amarras que cortei, tornam a me amarrar naquilo que novamente não sei. Caio na impressão de que não sou rei e sim peão. Minhas agitadas mãos agora estão estáticas. A caneta esferográfica  parou de atirar. Sangrando, me impede de continuar a tocar a melodia sublime de duvidar. Respostas, propostas, tudo se dissolve como um comprimido efervescente. Minha mente entra em colapso. Do ouro volto ao barro e tarro a próxima escultura bizarra. Minha cara se derrete assim como minhas certezas. As impurezas tomam conta contra aquilo que afronta minha liberdade de me achar perfeito. Os preceitos entram em queda livre. Minha estrada de tijolos amarelos entrou em declive, e apesar de que me irrite, torno a caminhar em seu abismo. Volto ao pó, ao começo da tentação humana. O abstrato dom do instinto em luta com que sinto. Minto, rio, debocho da minha loucura, me tornando a forma pura da insanidade poética. A fonética me falta e até as palavras perdem o sentido. Apenas os olhos daquele ser desprovido de rosto a me rodear em cada texto novo. Bato a porta e capoto no meu chão. Entro em estado hipnótico profundo. Refugiado nos meus sonhos, penso estar seguro. Mas me persegues. Se atreves a invadir meu sono. O que quiseres eu proponho, mas por favor saia do meu sonho. Risonho como o Diabo, surge em meios aos fatos e lampejos. Com a voz em um tom de desprezo: “Não há lugar onde possa se esconder de si mesmo.” Num pulo, acordo e me dou conta que aqueles olhos, era apenas meu reflexo no espelho.

Yuri Cidade

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