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Foto do escritorYuri Cidade

Réveillon fora de época 

E começa o ano no Brasil. Como um tsunami, os fogos inundaram o céu. Vagando no oceano arquitetado todo em concreto, álcool, e esperança de que dias melhores virão, encontramo-nos à deriva. De frente pro sonho, mas hesitante à cada vez que nos deparamos com um obstáculo que bloqueia a glória. A aventura terrestre que há cada 365 dias se renova trazendo fé, esperança, e muitas vezes reflexão de como se pode melhorar um ano que passou e por vezes assistimos sem nos dar conta de que mesmo em meio ao caos há sempre um motivo por acreditar no diferente e sorrir, esbarra na desistência da busca pela melhora por conta de um povo acomodado e uma parcela de uma classe social alta que teme perder os lugares cativos na ilusória realeza brasileira. Ah se diariamente o brasileiro tivesse a alegria, fé e disposição que se tem em um dia de réveillon. O fluxo de vibrações positivas foge da proporção em dias como esse. Vira o ano, mas é preciso virar o jogo. Parar de rolar dados viciados implorando pela ajuda de dos santos protetores dos irresponsáveis. A lei da evolução continua mais ativa do que nunca e com certeza esse ano ela arrastou mais alguns que se recusaram à aceita-lá. Um tapa na cara de quem vive lamentando um passado. Meu pedido pra 2016? Clareza, serenidade, calma e o ingrediente mais clichê de toda essa receita da vida: Amor. O Brasil é o caos à espera da próxima bomba atômica que teremos que engolir em silêncio. Armados de canetas, votos comparados, delações premiadas e desvio de verba pública, nosso “querido” exército político continua a devastar qualquer resistência vinda de alguns que perdem o medo de enfrentá-los. O povo é tratado como escravo, forçado a lutar entre si nos coliseus diários da ignorância disfarçada de democracia. As senzalas, também hoje chamadas de favelas, ocupam uma boa parte do território brasileiro, e ficam na margem da casa grande e principalmente na margem do esquecimento. Pobre não é gente, é apenas número pra ser calculado como problema econômico e social enfrentado pelos cidadãos de bem que pedem por segurança. Cidadãos esses que pregam um fascismo ocultado por palavras bonitas e má interpretação da constituição brasileira. O parlamento vai de sala de estratégia de guerra a circo montado para iludir o povo em meio a orgia financeira que rola em cada gabinete. E há de se citar também que existe a bancada evangélica conservadora que é responsável por rasgar a parte da constituição que diz que o Brasil é um estado LAICO. Impõe metas de erradicação da liberdade de expressão, da livre concepção de gênero sexual, e de todo e qualquer direito que implique na liberação da vontade de um ser humano. O brasileiro é refen de si mesmo, amordaçado pela cultura do capital e cegado pela falta de educação. Qualquer ato de revolução é tido como “mimimi” de uma classe que busca apenas a autopromoção. Não, o Brasil não está ficando chato. Apenas mais pessoas estão se juntando a luta contra a cultura da injustiça racial, sexual e intelectual. Chato mesmo é levantar pela manhã para trabalhar em algo que não queremos, escutar piadinhas escrotas de quem acha que tem direito de te estuprar pelos ouvidos, ter menos chances porque seu biotipo é inferior e que é propício ao crime pela cor de sua pele. Ignorar o fato de que essas minorias são as maiorias que sofrem na carne com o comportamento hostil e preconceituoso de uma sociedade corrupta. É simplesmente rasgar qualquer noção de ética e educação que você prega ajoelhado numa igreja, engravatado frente a classe alta ou num discurso facebookiano de quem procura idolatria por ser idiota. O Brasil é uma bagunça, sim! Mas em nenhum momento há de se perder a fé na luta por um lugar melhor. A evolução é nítida como o vidro da sua janela. Não devemos nos abaixar diante da represália alheia que age pelo medo de perder seu status social e capitalista. Temos que parar de lamentar e achar que o Brasil não tem jeito. O único jeito de transformar o país é abolir o “jeitinho brasileiro” de fazer as coisas e incluir todo e qualquer cidadão sem distinção de biotipo, raça, cor e gênero, dando a todos as mesmas oportunidades de atingir um nível digno de um ser humano. Eu não escolheria outro país para ter nascido, e tenho maior orgulho de ser brasileiro, pois represento uma parcela da luta que busca a evolução e o respeito à dignidade da pessoa humana. Não sou hipócrita ao ponto de dizer que está tudo bem, mas sou forte o suficiente para buscar a melhora. O Brasil não pede socorro, implora por resistência.

Yuri Cidade

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