Desvencilhar-se-ão debaixo do meu travesseiro, todos os anseios e desejos que aspiram transformar-se em sentimentos. Um gole a mais de vida é o que eu bebo da tua boca. Direto da fonte. Atravesso a ponte entre a realidade e ilusão. Sei que me deixarão à sombra do fracasso e amínguo de razão. Maldito coração, que teima em bater esquerdo. Queria mesmo ser direito e não usar os meus instintos de mundo cão. Grito aos quatro ventos e aos sete mares, palavras pares, sinônimos da minha indignação. Será essa a sina do homem? Perder-se na dúvida entre razão e sentimento? Porque não passa simplesmente o tempo ignorando qualquer tipo de emoção? Tanto pro mal quanto pro bem. É como pegar um trem, mas sem saber destino. Pois o meu desbaratino sempre acaba por causar-me confusão. Ou é cultura ou é costume! Sempre me acomodo com o problema. Estampo o emblema da eterna indecisão. Ah pobre cristão, que se ajoelha em meio ao pecado. Não vai pro céu por simplesmente permitir-se sucumbir aos próprios instintos. Confesso que às vezes minto, mas apenas pra mim mesmo. Um remédio em doses rápidas e indolores. Mas que sempre há de ter um colateral efeito. Desfeito, mal feito, rasga a carne do peito que tenta livrar-se da razão. Nem é estranho tudo isso. É meramente comum. Pois todos que aqui passam os olhos, perdem-se em meio a lembrança que se adapta o texto. Mudam-se os nomes e endereços, mas o problema é sempre o mesmo. A guerra civil que corrói e padece dentro de cada ser.
Yuri Cidade
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