Ela me olhou e debruçou-se a rir. Seria felicidade ou premonição de desespero? Perdida entre sonhos de papel, enrola a vida, e no fio do pião dá corda no tempo, se iludindo de que este realmente parou. A inocência de suas sinceras vontades expressadas, são simples instintos de sua pura personalidade. Porém, Correu! E escorreu rua abaixo, em um esconde-esconde de gente grande. Subiu ao time principal. Quem procura, acha. E quem se esconde, adia o funeral. Nas bolhas de sabão, soprou sua saliva de juventude, em mais uma bola, a próxima brisa de sua infância relutando para disfarçar o cotidiano caótico que nunca desliga. No seu vídeo game, zero continues, zero vidas, zero chances, zero à zero. Empate entre falta de oportunidade e o nascimento prematuro, pois não era sua hora de vir ao mundo. Imundo se torna, graças ao sistema que lhe encarcera na sua própria mente, suprimindo suas escolhas para que seu histórico não passe de um reprovado social. No seu quarto não tem brinquedos mais, o brinquedo que aprendeu a carregar é um revólver na cintura, e com ele brinca de Cowboy fora da lei no velho oeste suburbano. No pé descalço, um talento pra bola, o samba no pé e a malandragem da vida. Enquanto tinha esperança de um final feliz, inventava suas próprias fantasias, porém, hoje ele aprendeu que o amor é apenas um conto da carochinha. Sua revista de colorir é preto e branco, como um filme mudo, sua voz não é ouvida, e as legendas da sua suposta fala, transcrevem as mentiras do roteiro de outrem. Minha doce criança, perdoe seus irmãos que não souberam emprestar os presentes. Volte a tua inocência, e viva na sua terra nunca. Uma lágrima cai e se mistura com sangue, aqui não jaz mais um anjo. Aqui, esticado na viela, se encontra o demônio que fora crucificado pelos deuses egocêntricos e mesquinhos que lhe abandonaram a própria sorte no limbo. Em sua camisa alvejada de disparos, escorre a essência, e aos poucos a alma de uma criança vai saindo para poder desfrutar daquilo que nunca lhe fora dado: vida.
Yuri Cidade
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