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La vie de la musique

Rodeado dos meus semelhantes, me isolo. Componho minha sinfonia de notas dissonantes emitidas pelas cordas vocais alheias. Faço de tudo e de todos uma grande orquestra sem maestro. Afino meu instrumento cerebral e o toco por infinitas horas sem que ninguém me ouça. Por mais que eu grite ou aumente meu volume, todos continuam a focar na sua própria melodia. Sendo assim, todos os membros desta mesma banda chamada mundo, nada mais são do que artistas em carreira solo, percorrendo seu caminho de vaidades a procura de espaço para seu ruído. “On the road, guys!” Assim gira o mundo, milhões de universos emitindo por si só, um eco da sua própria consciência. Quando deixeis entrar em vossa partitura uma nota alheia, isto faz com que seu som se confunda e se relacione com os demais músicos. Assim, o seu universo cria a ilusão de que é comum a todos os outros. Porém ao final do setlist, desmontados os instrumentos, volta tudo a ser como sempre será: um ensaio solo de um instrumentista sem público. Meu público só existe enquanto se permite confundir com minhas desconexas palavras, fazendo delas, por alguns míseros instantes, versos da sua própria música. O ritmo quem dita é o tempo, mas o tempo se dilata conforme a vontade de existir de cada um, como uma nota de piano que você deixa soar ou simplesmente abafa. O metrônomo vital oscila seu tempo conforme o estilo musical de quem toca, ou seja, uma profunda exteriorização ritmada da própria existência. A vida é realmente feito a música, sendo que cada momento, equivalem a notas que se propagam ou se abafam, que no fim formarão uma sinfonia que jamais será composta igualmente por outro maestro. A harmonia nem sempre é tão presente. Esse fundamento essencial da teoria musical não é tão controlável nesse escopo existencialista, visto que por vezes o músico se perde em si e acaba por expor um som confuso e desregrado, não obedecendo o espaço dos demais integrantes da grande orquestra. Pesados ou doces, os sons se multiplicam a cada dia, fazendo do meu dia, um interminável festival de bandas alternativos. Indiferentes com os demais, vários músicos mal se escutam, e aí caem na mesmice de tocarem sempre a mesma nota. Assim como se forma um musicista, é necessário escutar e aprender diversos estilos, para que no fim das contas, nós mesmos criemos o nosso próprio e original. Quem plagia ou rouba canções alheias, acaba por não existir, pois seu universo não foi composto por seu intelecto ou percepção, foi simplesmente uma reprodução de uma faixa que está sempre no repeat. No amor se formam os mais belos duetos, declarando um ao outro suas existências dependentes entre si. Pelo lapso de tempo que se propague a união, as canções solo ainda farão parte do repertório, porém novas composições conjuntas se formam dando forma a beleza e a musas. Nem todo compositor necessariamente se prenderá a uma musa, mas estará sempre fadado a sucumbir suas letras a uma inspiração de quatro membros que desperte seu lirismo em qualquer esquina ou botequim. A união não é precedente de uma relação, pois amores platônicos tendem a criar canções a musas que nem ao mesmo tem conhecimento de que são amadas. O ser humano é um músico de mão cheia, pois é fantasioso e criativo, dando vida ao que não existe. Ninguém é fiel a um só estilo, pois jamais saberá ao certo que som poderá agrada-lo. Vamos do samba do crioulo doido à nona sinfonia de Beethoven. Viveis sua música meus infiéis musicistas! E toquem-na o mais alto que puderem, pois não teremos outra chance para um bis. Nosso show começa e termina na mesma hora que nossas cordas arrebentarem, deixando apenas o silêncio ensurdecedor ao público. Ficam aqui meus sinceros acordes tocados com amor e raiva mais humana do que um boêmio pode ser, pois seria impossível eu vos dizer minhas palavras sem ligar meu pedal de distorção da realidade. Nos encontramos no refrão!

Yuri Cidade

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