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Natureza Humana

Em uma noite escura e tempestuosa, sob o aguaceiro incessante que encharcava seus rostos e feridas, um grupo de três viajantes fugia de uma tribo de trolls em meio a uma densa floresta, despertando em cada um deles os medos mais profundos e a necessidade urgente de encontrar abrigo.


- Ali! Uma cabana! - exclamou Valenar, um humano robusto vestido em armadura reluzente.


Os três aventureiros se precipitaram em direção à cabana, batendo com veemência na porta, implorando por ajuda.


Aos poucos, a porta se abriu, revelando a figura enrugada de um ancião. Um humano muito idoso os encarou com olhos sábios e disse:


- Entrem, depressa.


- Agradecemos profundamente sua generosidade, meu senhor! - respondeu uma meia-elfa exausta que se deixou cair ao chão. - Sou Solune, e estes são Valenar e Finnegan.


- Sejam bem-vindos. Eu me chamo Fharenllor. Ouvi os urros dos trolls e logo percebi que algum curioso havia se aproximado demais das criaturas - disse ele com um sorriso simpático. - Venham comigo para um lugar mais confortável - continuou, atravessando uma porta de madeira velha e gasta.


O grupo, sem muita escolha, seguiu o ancião e deparou-se com um jardim interno de beleza extraordinária, onde até mesmo uma pequena cachoeira despejava suas águas em um riacho que cortava o local. Eles ficaram maravilhados com a visão e a energia mágica que envolviam aquele refúgio druídico.


- Que lugar esplêndido é este, meu senhor? - perguntou o pequeno halfling.


- Isto é um recanto druídico. Um coração que pulsa, alimentando a vida nas florestas e servindo de abrigo para druidas viajantes e para aqueles que têm um coração puro. Fiquem à vontade para encontrar um local que lhes agrade para descansar. Comam o que quiserem, bebam quanto precisarem, mas não abusem da boa vontade da Mãe Natureza. Estarei por aqui, caso precisem de mim - indicou o confortável trono de árvores entrelaçadas.


Conforme a noite avançava, encantados com a beleza e a magia que permeavam o refúgio do druida, testemunhavam o espetáculo de luzes dançantes entre as árvores, ouviam os sussurros do vento transmitindo antigas mensagens e descobriam o poder curativo das ervas raras e poderosas que cresciam ali.


Cada membro do grupo foi tocado de maneiras únicas pela magia do lugar. O curioso Finnegan encontrou runas entalhadas na paisagem ao seu redor e imergiu em seu significado, absorvendo conhecimentos ancestrais. Solune, exausta das tensões do mundo exterior, encontrou paz ao meditar à beira de um riacho cristalino, permitindo-se ser envolvida pela energia revitalizante do lugar.


No entanto, Valenar, cego pela ambição e desconfiança em relação à genuína benevolência do druida, descobriu uma pequena árvore solitária em um canto isolado do jardim. Nela, pendiam gemas vermelhas como jóias brutas. Incapaz de resistir à tentação, o cavaleiro cedeu à ganância durante a noite e roubou algumas delas.


Na manhã seguinte, uma sombra ameaçadora começou a se espalhar pelo cenário outrora idílico. O jardim, outrora um espetáculo de cores e vida, murchara em desespero, e as flores agora pareciam pálidas e sem vida.


Fharenllor, percebeu a perturbação imediatamente e gritou em direção aos hóspedes:


- Alguém despertou o guardião! - com voz carregada de seriedade e preocupação.


Ao ouvir essas palavras, Solune, Valenar e Finnegan trocaram olhares de apreensão e espanto. Movido pela cobiça, Valenar escolheu ignorar os avisos e seguir com sua fuga. Apertando as pedras preciosas roubadas em seu punho, separou-se dos demais e tomou um caminho escuro e enigmático que se estendia para fora do refúgio druídico. A cada passo, a escuridão o envolvia cada vez mais, turvando sua visão e corroendo sua sanidade. O som das árvores e dos animais ao seu redor se metamorfoseou em murmúrios sussurrantes e malévolos, como se a própria floresta ressoasse sua reprovação.


À medida que seguia adiante, Valenar sentia os galhos secos das árvores envolverem seu corpo, tentando aprisioná-lo. E então, uma figura horrenda emergiu das sombras diante dele. A criatura era uma espécie de árvore anciã, de madeira negra e retorcida, coberta de espinhos afiados que percorriam todo o seu tronco e galhos. Seus olhos incandescentes brilhavam com ódio profundo, e tentáculos negros emergiam de sua boca grotesca.


Valenar, já dominado, percebeu o terrível erro que cometera. O guardião sombrio, despertado por sua ambição desmedida, lançou-se sobre ele. Os tentáculos negros se contorceram e envolveram Valenar, sugando sua vida de forma implacável, alimentando-se da corrupção em seu coração.


Solune e Finnegan, horrorizados, correram em direção ao cavaleiro, mas era tarde demais. O guardião sombrio desapareceu na escuridão, deixando para trás apenas a armadura vazia, que jazia no chão.

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