O salão exalava expectativa à medida que as imponentes cortinas se abriam, revelando um palco iluminado por uma luz suave e envolvente. Os murmúrios dos espectadores cessaram gradativamente, pois todos os olhares se voltavam para a figura misteriosa que emergia das sombras. Vestida em um traje negro elegantemente esculpido, com cabelos negros e sedosos que fluíam ao ritmo da dança, a dançarina exibia uma aura de graça e mistério que preenchia o ambiente. Enquanto ela se apresentava com maestria, Lorde Valerian, o anfitrião, sorria com satisfação, vangloriando-se para os amigos por ter encontrado a maior dançarina do mundo e tê-la trazido exclusivamente para sua festa de septuagésimo aniversário.
- Sora - sussurrou um nobre próximo a Lorde Valerian, com um misto de admiração e curiosidade. - A Dançarina das Sombras. Não veremos nada igual, nem em duzentos anos.
O que mais chamava a atenção em Sora eram seus sapatos deslumbrantes, que reluziam em um vibrante tom de vermelho rubro à medida que a música se iniciava. Cada passo que ela dava parecia narrar uma narrativa oculta, uma intenção sutil transmitida por meio de movimentos graciosos e hipnotizantes. Seu corpo, esguio e atlético, se contorcia em uma coreografia hipnotizante, fluindo pelo palco como um rio em seu auge. Enquanto dançava, lançava olhares furtivos em direção a Lorde Valerian, cujo sorriso presunçoso refletia a atração irresistível que a performance da dançarina exercia sobre ele.
À medida que a apresentação de Sora atingia o ápice, seus sapatos se moviam cada vez mais rapidamente, criando a ilusão de que ela flutuava pelo salão. O vermelho intenso emitido pelos seus pés envolvia-a em uma aura mágica, amplificando sua presença e encanto. Era como se a dançarina se conectasse diretamente com os corações dos espectadores, envolvendo-os em um transe momentâneo.
Lorde Valerian, completamente cativado e tomado por um ciúme doentio, levantou-se abruptamente de seu assento, gritando para que todos deixassem o salão. Em sua mente egoísta, apenas ele considerava-se digno de apreciar a presença magnética de Sora. Sob o comando de sua autoridade e fascínio, os convidados, ainda enfeitiçados pela dança, obedeceram prontamente às suas ordens e deixaram o salão vazio, execeto por Lorde Valerian e Sora.
Finalmente sozinhos, o plano meticulosamente elaborado da mulher começava a se desenrolar. Em um salto perfeito, ela revelou lâminas afiadas, ocultas nos saltos de seus sapatos rubros. A luz sutil emanada transformou-se em um brilho intenso, refletindo a determinação ardente que ardia nos olhos da dançarina, enquanto aterrisava o salto sobre o peito de Valerian, cravando as lâminas em sua carne. O ar ficou impregnado com a respiração ofegante de Sora e os gemidos agonizantes do Lorde.
Inclinando-se sobre o corpo ferido de seu inimigo, Sora sussurrou em um tom carregado de ira controlada:
- Isso é pela minha família.
O Lorde se debatia em agonia, o turbilhão de emoções que consumia seu ser o levou de volta ao passado, a um tempo de crueldade e injustiça. Visões pungentes da família de Sora sendo expulsa das terras que ele conquistara, da tragédia que ele havia causado há mais de duas décadas, dos rostos dos pais, o medo nos olhos dos irmãos ainda crianças, a casa consumida pelo fogo enquanto adultos eram abatidos friamente por sua espada, tudo ressurgiu com uma intensidade angustiante. O remorso inundou sua alma, a consciência de que cada ação tem consequências indeléveis.
- Sua vida agora é minha.
Sora permaneceu imóvel, a figura solitária e triunfante sobre o corpo inerte de seu inimigo, sabendo que a vingança não poderia trazer sua família de volta, mas pelo menos agora podia seguir outro caminho. Apesar de ter mergulhado nas sombras e se unido à ordem dos Assassinos da Névoa, não se arrependia de sua decisão. A morte agora seria sua única aliada para garantir sua sobrevivência.
Com um último olhar para a vítima caída, Sora ergueu-se e desapareceu em uma nuvem de névoa, enquanto os ecos dos passos marcados reverberavam pelo salão vazio.
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