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Foto do escritorYuri Cidade

A espera

Distópico. Meu mundo de papel se tornou uma tesoura, que cortará meus sonhos ao meio. Os devaneios me cegaram, enquanto que os anseios tormentavam numa espera infinita. Tédio, remédio, zica, pica e minhas moedas se chocando no bolso. Um terço satânico entoava seus cânticos numa sala de aula vazia. Não de gente, mas sim de mentes. Meus dentes cerravam a medida que meu pulso apertava formando um soco de raiva por não estar fazendo nada. As escadas não levavam a nada, perdido em si, andei em círculos em volta da mesma mesa. As mesmas histórias, as cadeiras amarelas e a agonia de estar inerte. Um flerte com uma dama desconhecida que voltou a colocar seus fones de ouvido, como quem diz: “Não comigo.” Pro inferno! Abri meu caderno e dediquei-lhe um poema. Vã esperança de que um dia minhas linhas a levem pra cama. Mente humana trabalha pela presa. Tornei a rir na paciência que tudo aconteça e a flor de copas desfloreça nos meus copos vazios de ressaca. As marcas, as falhas, as telhas do meu juízo sendo quebradas uma a uma. Até me sinto leve como um pluma, mas carrego o peso do mundo. Do meu mundo. Solitário, escuro e tormentoso. O fosco olhar de quem espera devorar almas aleatórias. É tudo um truque? Ou estou mesmo vivendo minha história? “Simplórias horas, senhora da vida, porque tendes a me fazer escravos das tuas medidas?” Só quero uma saída. Um fim. Um último gole para que a tosse não me leve. Quero que por baixo das tuas saias você me carregue. Falta prece pra tanta fé. A colher que carrega o xarope da realidade, me empurrou goela abaixo um óleo de rícino me embrulhando os sentidos e o estômago. Antagônico, meu tempo se desfaz novamente na espera de alguém sair por aquela porta e torna a dizer: “estou aqui” Mas tudo que saiu, fora apenas um guarda me dizendo: “Fora daqui, vagabundo! Aqui é lugar de estudo e não de aventuras.“ Pude sentir o soco da amargura a me acertar com sua peste. As vestes nunca condizem com a função, pois nesse mundo cão, todo dia é dia de brincar de policia e ladrão. Manifestação calada de um ser gritante que se faz gigante quando se encolhe nas palavras. Talvez eu seja assim, um mutante em desconformidade com meus passos. Meus traços perdem o rebolado e tudo acaba no mesmo instante. Ofegante sentei-me solitário a mesa. Rodeado de gente, mas abandonado pela vida. Continuo à espera. Não sei nem do que. Mas desse mundo, eu desisti de pertencer.

Yuri Cidade

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