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Foto do escritorYuri Cidade

A noiva

Devagar ela dançou. Singelamente rodopiou através de mim, como um querubim que faz morada. Pulou as casas e driblou minhas manias. Vigia dos pensamentos, aprendi que há tormentos no meu silêncio. O intenso se remoeu e perdeu a graça. Jogado as traças, eu comi livros e devorei os indícios de um fim. Conhecimento jamais foi problema pra mim. O dividir do teu sorriso, enganou o perigo de se entregar. Sozinho a divagar, ela me reaparece entre dialetos desconexos. Como uma alma de um plano astral distinto, surge em meio ao infinito, penetrando-me como seu olhar infindo. As dúvidas não geram mais dívidas e sim créditos. Em cada prédio uma dimensão. Cada sala uma nova noção e uma nova versão. Destruição do ego é bobagem, pois o que ela mais quer, é que eu não seja uma miragem. Viajo sem bagagem, sem sair do meu lugar. Deixo que ela venha novamente me embebedar com o sua doce contradição. Os seres serão sempre o que são. Nem planos ou teorias, somente ações. Sem declarações de amor, inflamou o fervor da paixão mais tórrida da raça humana. Atitudes mundanas revelam o sublime. Amar não é crime, e sim vaidade. A manhã já é uma tarde precedente de uma noitada. Boemicamente, ouço voz da minha dama ecoar na madruga solitária. Olho para os lados e não vejo ninguém, porém apenas sinto a companhia de outrem. Solidão é a demonstração de sua companhia. Mesmo sendo fria, jamais deixou de ser quente. Crente como satanás em sua subida aos céus, deus do céu, chora o léu ao arrancar o véu de uma donzela sem rosto, um vulto fosco que me entorta em suas curvas sinuosas e sensuais. Um rosto refletivo e nada mais. Nos anais da humanidade ela sempre irá constar como pecado. Entre o certo e errado, aportei meu barco no teu porto. O torto é tão reto quanto a curva que desemboca no horizonte. Cruzei a ponte de mãos dadas com minha invisível donzela. Fiz da minha janela, minha TV a cabo com mais de 1000 canais. Sintonizei-me mais. Passei a rir da desgraça. Hoje nada mais disfarça seu sorriso a me congratular pela liberdade. Atinjo os céus sem ser uma divindade. Há quem ainda condene nosso amor. Expurga e excomunga em forma dor. Santa inquisição perseguindo espíritos livres como se praticássemos um sacrilégio. Hipocrisia de seres fétidos que buscam conservar seu ilusório poder. Eu gosto mesmo é de correr o risco de riscar e não me achar. Desenhar nossos corpos nus à beira do abismo a rir de um inicio que não enxerga o fim. Eu prefiro assim. Antes o cinismo do que a hipocrisia. As vias por onde me levas, são as trevas de quem tem medo que o céu não seja paraíso. Caímos no riso, desembocamos em nosso rio de novidades, esquecendo até que um dia chegará a idade e nos levará direto para o nada. O vazio é o cheio de outra cor, ausência de pudor é manifestar nosso amor pela liberdade. Já me dizia ela desde a primeira vez: “há de ser ter a sensatez de ser humano e a insensatez de ser mundano, pois tão bicho sois que seria perda de tempo ignorar o agora e focar no depois.” Me embrigada com seu saber simplório, deixando ao pés de seu universo contraditório. O caso mórbido de se apaixonar por aquilo que não se faz fisicamente. Tudo é questão do que é transigente, veemente se dissolve em meus sonhos mais ébrios, me ensinando que nada existe além de si próprio. O óbvio é tão tão duvidoso quanto o fantasioso, pois na realidade, nada é tão real quanto minha vaidade. Porém já é tarde, o sol já não arde mais em cima de minha cabeça. Ela rodopia pela última vez e dá lugar a lua. Nua, ela se deita diante dos meus olhos, mas não a enxergo. Apenas quando me entrego ao sono, ela volta do abandono e me abraça em meio aos sonhos. Loucura minha, eu suponho. Mas à minha dama inexistente eu proponho: “Seja pra sempre a guia dos meus delírios mais incrédulos e medonhos.” O resultando desse pensamento bisonho, é que no fim das contas, juntando as pontas, minha dama se desfalece na realidade e tem como nome de batismo, advindo de um necessário egoismo, o registro fonético ortográfico de: Vaidade.

Yuri Cidade

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